NOTA DE ESCLARECIMENTO INICIAL

Somos COLORADOS e estamos preocupados com os rumos do CLUBE DO POVO. Por isso criamos este blog. Nosso maior objetivo é resgatar a alma do Sport Club Internacional, cujos alicerces estão fincados nas classes populares, que sempre deram sustentação e transformaram o INTER no GIGANTE que ele é.


O Inter NÃO nasceu em 2002!!!



terça-feira, 27 de junho de 2017

Os 10 (milhões de) Pillas

Mais uma vez o Internacional fez história. E a história de uma instituição popular é por natureza revolucionária. Então, o que ocorreu ontem à noite no Salão Nobre do Conselho Deliberativo foi uma revolução. E talvez não seja mero acaso que isso tenha acontecido justamente num dos ambientes ainda conservadores do clube. Sim, o Conselho Deliberativo do Internacional é um ambiente conservador e elitista, embora esse perfil esteja passando por uma mudança drástica nos últimos anos, desde que um grupo de torcedores e torcedoras, forjad*s no cimento do Beira-Rio, ousou invadir aquele recanto dominado pelas famílias tradicionais e pelos senhores e (poucas) senhoras que representam a "fina flor da sociedade esportiva gaúcha" (ouvi essa expressão certa vez numa reunião!). A partir de então o hino do clube começou a ser cantado a plenos pulmões dentro da sala e a voz das ruas, do povo vermelho, começou a ter eco naquelas paredes.

Não vou aqui me deter a um resgate de tudo o que já aconteceu de... diferente, digamos assim, no âmbito político do Internacional desde o final de 2014. Quero dizer do que aconteceu ontem. E ontem foi uma noite que encontra paralelo em importância com aquele dia em que alguns revolucionários se reuniram na volta dos Campos da Várzea e decidiram criar um clube. Não um clube qualquer, mas um clube que proporcionasse que eles pudessem se dedicar à sua paixão, o foot-ball, já que outras sociedades que já existiam na cidade eles não estavam autorizados a frequentar, ou por não terem origem germânica, ou por não terem a cor da pele tão clara que não desse margem a dúvidas quanto às suas origens, ou por qualquer outra razão excludente. No começo do século 20, então, nascia o Sport Club Internacional, sob a égide do universalismo e da não segregação, e com a cor vermelha, que era, e é, a cor da revolução.

Fazendo um salto de quase cem anos, chegamos a uma época em que se decidiu - não expressamente, claro, pois raros são os canalhas que escancaram a sua estupidez - que a torcida colorada deveria mudar o seu perfil. Já não havia mais espaço para aquele/a torcedor/a humilde, que fazia pesadas economias apenas para poder ver o seu time jogar no domingo. Aquele/a torcedor/a que muitas vezes ficava pela rua depois do jogo por não ter dinheiro para voltar para casa, então emendava o começo da jornada semanal de trabalho ao prazer de ver o seu time destruir os adversários na sua casa. E o time invariavelmente correspondia. E foi assim que passamos de um clube citadino a uma expressão estadual, depois a um dos grandes do país e daí para o mundo. E se é verdade que quando conquistamos o mundo definitivamente a saudosa coreia (sim, saudosa) já não existia fisicamente, é inegável que o seu rugido (para usar um termo ao gosto de um ex-dirigente) ainda ecoava e apavorava os adversários. Apesar de já não poder mais ficar ali do ladinho do campo, de pé, na chuva e no sol, o povo da coreia insistia em levar o Inter a feitos relevantes, polindo o brilho eterno de um grande campeão. Só que depois de desmentir o astronauta e mostrar que a Terra é vermelha, o Clube do Povo resolveu implementar efetivamente um processo que já se ensaiava nos bastidores e nos gabinetes do Gigante da Beira-Rio e voltou às costas ao... povo. A consequência disso estamos vivendo hoje e não vou entrar nos pormenores desse assunto.

Voltando à noite de ontem, apesar das resistências, motivadas por interesses não muito claros ou apenas pelo pensamento elitista, pelo egoísmo, pela arrogância e pela prepotência que nos levaram à situação que vivemos hoje, apesar dos discursos anacrônicos e virulentos,  mofados e atolados de preconceito, apesar dos deboches, das descontextualizações, das manipulações e das tentativas de desqualificar e desvirtuar um projeto que teve origem na raiz mais profunda e vital do Internacional, que é o seu povo, o Conselho Deliberativo aprovou o projeto de associação popular, originalmente concebido sob o nome de Sócio Clube do Povo. Não por acaso, certamente, *s que se manifestaram contra, ontem e desde sempre, são justamente *s fiador*s desse projeto maldito que levou o Inter a um lugar que não é dele. Mas el*s foram vencid*s ontem. O povo *s abateu!

Aqui devo fazer uma digressão de cunho pessoal para explicar o que a aprovação deste projeto representa para mim. O elemento que consolidou a minha participação no Povo do Clube, eu que nunca pensei entrar na vida política do Inter, foi o Parque Gigante e quase sempre a minha presença no Movimento foi associada ao nosso clube social. Isso é motivo de muito orgulho para mim, porque vivi boa parte da minha vida lá na beira do rio e vi minhas filhas crescerem correndo e se divertindo naquele espaço maravilhoso. Só que a luta pelo Parque Gigante eu já travava paralelamente ao Povo do Clube, a bem da verdade antes mesmo da existência do Movimento. Assim, não seria esse o motivo isolado que me faria aceitar o desafio de encarar o ambiente hostil da política clubística que é, em muitos aspectos, ainda mais selvagem que o da política institucional. Havia uma causa mais ampla, havia o Churrasco do Povo, que foi o evento em que me foi apresentado o Povo do Clube, pelo meu amigo Flávio. Por questões filosóficas, hoje quase não como carne e parece uma grande bobagem dizer isso neste momento, mas preciso para deixar claro que churrasco é algo que transcende a ideia do espetáculo, que hoje considero triste, de pessoas se regozijando em torno de uma vida abatida ardendo no fogo. Concepções filosóficas à parte, churrasco não se resume a isso, é algo que traz a ideia de congregação, de reunião de amig*s, de alegria de festa, aliás, de paz, povo e festa. Isso é um churrasco, na mais atávica tradição do sul do planeta. E o Churrasco do Povo amplia esse sentimento de união, mas a ele alheia um componente de irresignação, porque representa a resistência do excluídos, dos que fiaram de fora da festa. E por trás do Churrasco, e nele mesmo, está sintetizada a essência do que é o Povo do Clube. E essa essência é o que me fez mergulhar nessa história.

O resgate da identidade popular do Inter, a reconciliação do clube com a sua história, a volta do povo ao Beira-Rio, então, é o que define a existência do Povo do Clube. E é também o que definiu a única possibilidade que vislumbrei de participar ativamente da vida política do clube. E nesse contexto, o Projeto Sócio Clube do Povo era como que um cavalo de batalha, o estandarte principal do Movimento. As tentativas frustradas de levar em frente o projeto eram verdadeiros baldes água fria nos ânimos da nossa gente. Mas muitas vezes um banho de água fria serve apenas para reativar a circulação do sangue, vermelho, por óbvio, fazer com que ele comece a ferver nas veias novamente e nos motiva a seguir na luta, com força redobrada e ainda mais vontade de redimir injustiças, como um Cavaleiro Andante, um Quixote que não se entrega ao poder dos moinhos de vento (talvez Moinhos de Vento?).

Por diversos motivos, todos eles pródigos em promover correrias e atropelos, me afastei da rotina diária das lutas políticas do Inter. Entendi, em certo momento, que deveria direcionar meus esforços para outras causas, não porque fossem maiores ou mais importantes, mas pela urgência e pela certeza que havia muita gente para levar em frente os meus ideais no Povo do Clube. E não errei. Havia, e há, gente grande trabalhando nessa causa. Poderia, talvez até devesse, citar aqui os nomes das pessoas que representam da maneira mais explícita esses ideais e carregam a essência do Povo do Clube  - e aqui falo não do Movimento, mas da causa -, mas não vou fazer isso, para não cometer injustiças, sim, mas principalmente porque eu tenho certeza que tod*s *s companheir*s se sentirão contemplados se eu referir apenas um nome: CRISTIANO PILLA PINTO. Eu não vou dizer que o meu amigo Pilla é o maior colorado que eu conheço, porque não há colorados maiores ou menores. Não para quem tem o Inter no sangue e no coração. Mas eu vou dizer que o Pilla representa a síntese de tudo o que eu acredito e de tudo o que eu sonho para o Inter. E vou dizer que, tenha o nome que tiver, e o respeitarei se for escolhido pelo povo colorado, esse projeto que foi aprovado ontem, e que vai ser aprimorado, esse projeto que representa o resgate de uma história e um exemplo que deve ser seguido, nas palavras do jornalista Mauro Cezar Pereira, vou dizer que sempre vou pensar nesse projeto como SÓCIO CLUBE DO POVO. Mas também vou dizer que o momento mais emocionante pra mim ontem foi quando o presidente da Mesa usou uma expressão que eu ainda não tinha ouvido, por não estar ativo nas discussões e debates ultimamente, mas que sintetiza tudo o que eu estou sentindo neste momento: OS DEZ PILA DO PILLA!


Te agradeço pela brilhante defesa que fez do projeto ontem, por nunca ter desistido dele e, principalmente, por nunca ter deixado que eu desistisse dele. Em nome do Beleza, do Zecão e de todos e todas os/as colorados que vão começar a voltar pra casa, mesmo que seja em espírito:

Obrigado, Pilla!