A passagem do tempo nunca é absoluta. Um minuto pode equivaler a um mês e um ano pode correr como se fosse um segundo. Na manhã de 17 de dezembro de 2006, houve momentos em que 30 segundos pareciam durar uma eternidade. E já lá se vão quase 20 anos daquele momento mágico. Por outro lado, no âmbito da política do Internacional, a impressão que se tem é que uma década passou voando. Tanto que quase não percebemos e ainda estamos às voltas para entender como um grupo de pessoas que tinham em comum o amor pelo Inter e como lugar de encontro o concreto da arquibancada, e por isso deram vida a um movimento que abalou as estruturas do ambiente político do Internacional, passou tão rapidamente de uma verdadeira revolução no futebol, referência dentro e fora das dependências do Beira-Rio, a mais do mesmo, ou, na verdade, a algo muito pior do que o mesmo.
Há 10 anos, no começo de 2015, O Povo do Clube começava a sua trajetória oficial na política do Inter, com a entrada dos primeiros e das primeiras conselheiros e conselheiras. Em pouco tempo, os efeitos da chegada de um grupo popular a um ambiente historicamente marcado pelo conservadorismo e pelo elitismo começaram a se observar. Uma das bases dessa pequena revolução promovida pelo Povo do Clube estava do outro lado da avenida Beira-Rio. O Parque Gigante ofereceu não só votos importantes para eleger o primeiro grupo de conselheiros/as do movimento, como também nomes importantes para a militância, que se tornaram referenciais na política colorada, ao ponto de algumas dessas pessoas alcançarem cargos de destaque na gestão do clube. O Parque Gigante, então, foi bandeira do Povo do Clube desde a primeira hora.
Na gestão de Marcelo Medeiros, a primeira experiência do então movimento da torcida colorada na administração do Parque Gigante foi importante, mas, de certa forma, frustrada pelo esvaziamento das funções do diretor indicado pelo Povo do Clube. Como não havia uma vice-presidência do Parque naquele período, essa função era exercida de forma concomitante com a vice-presidência de patrimônio, configuração duramente criticada pelo Povo do Clube, que deu origem a uma alteração no estatuto, por pressão do movimento, que passou a incluir a VP do Parque entre as obrigatórias na gestão. Correm os anos e o Povo do Clube chega ao poder. Como era esperado, a administração do Parque Gigante foi destinada ao movimento. Para surpresa de muitas pessoas, salvo algumas poucas que já haviam percebido a transformação do movimento, a estrutura da gestão no começo de 2024 não contemplava a VP do Parque Gigante. Pressionado por integrantes do Tradição Popular Colorada, movimento que mantém o Parque Gigante como causa, o Vice-Presidente eleito pelo PdC promoveu uma manobra política, arte na qual é mestre, e a VP do Parque aparecia novamente vinculada ao patrimônio. O discurso de que essa configuração, antes duramente criticada, agora seria benéfica ao Parque foi risível. Como também foi digno de piada de mau gosto o nome indicado para ocupar o cargo, um jovem conselheiro, sem nenhuma autonomia sequer na sua principal pasta, e que provavelmente precisou acionar o GPS para chegar ao Parque pela primeira vez após ganhar a vice-presidência. A partir daí não houve mais frustração de expectativas, a administração do Parque Gigante nos dois últimos anos é catastrófica, e talvez o ponto máximo tenha sido atingido no último fim de semana.
A Comissão de Sócios do Parque Gigante, CRIADA POR DEMANDA DOS SÓCIOS E SÓCIAS, com legitimidade reconhecida pela vice-presidência anterior do Parque Gigante, ainda na primeira gestão de Alessandro Barcelos, que era só do Parque Gigante, solicitou uma reunião com a atual direção. O Vice-Presidente de PATRIMÔNIO e Parque Gigante se negou a receber os sócios e ainda disse que só conversaria com a comissão. Disse que poderia receber os sócios e sócias no sábado, mas que na segunda-feira seguinte DESTITUIRIA a comissão, que, segundo ele, em total desconhecimento da história do clube que dirige, teria sido criada por ato de gestão. Autoritarismo? Arrogância? Prepotência? O que mais?
Entretanto, o show de horrores não para por aí. No dia da reunião, um sócio, integrante da comissão, foi proibido de entrar no Parque por estar com uma mensalidade em atraso. De nada adiantou o sócio explicar a dificuldade financeira momentânea e dizer que apenas participaria da reunião, sem utilizar nenhuma outra dependência do clube; os representantes da gestão escalados para o trabalho naquele dia foram irredutíveis e o diretor do Parque, integrante do Povo do Clube, acionado por telefone, mostrou estar de mãos atadas, disse que sequer tinha maiores informações acerca da reunião. O Vice-Presidente neste momento estava em local incerto e não sabido… Não bastasse isso, a solução emergencial encontrada pelos sócios para que o integrante da comissão pudesse participar da reunião foi negada pelo staff de segurança, com o aval da direção. Por sugestão de outro sócio, foi tentado o ingresso do sócio barrado por intermédio do pagamento da taxa de convite. Para surpresa geral (ou não), o pedido foi negado por uma razão tão simples quanto absurda: ele não poderia entrar como convidado porque é sócio. Ou seja, a gestão Povo do Clube, num arroubo surrealista de causar inveja a Luís Buñuel, determinou que O SÓCIO DO CLUBE NÃO PODERIA ACESSAR AS DEPENDÊNCIAS DO CLUBE DO QUAL É SÓCIO PORQUE… É SÓCIO DESTE CLUBE! Groucho Marx, que certa feita disse que nunca se associaria a um clube que o aceitasse como sócio, deve ter se divertido muito… Acreditem, porém, que a truculência e falta de capacidade de diálogo da gestão Povo do Clube não se limitou a isso. Durante as tentativas de resolver a situação, a equipe de segurança foi reforçada em frente ao pórtico, local em que acontecia a conversa, como se o o sócio barrado e os seus companheiros que tentavam uma solução para o impasse criado pela direção do Parque representassem um risco à segurança. Embora o funcionário do clube tenha negado o chamado de reforço à segurança, quem estava lá viu chegarem dois ou três seguranças que não estavam lá no início da conversa, em clara tentativa de intimidação, outrora tão combatida pelo próprio Povo do Clube. No fim das contas, o sócio acabou conseguindo efetuar o pagamento da mensalidade em atraso e participou da reunião, cujas deliberações serão tornadas públicas nos próximos dias.
O caso relatado aqui é a prova de que o tempo é relativo, porém a sua passagem pode provocar mudanças rápidas e profundas nas estruturas sociais. Em pouco mais de uma década a torcida colorada viu o surgimento e ascensão de um grupo político que prometia, e durante algum tempo cumpriu a promessa, trazer novos ares ao mofado ambiente político do Inter, promovendo a reaproximação do clube do povo com o seu povo, e infelizmente, viu também a transformação desse mesmo movimento em algo muito pior do que tudo o que sempre criticou e combateu. De fato, o tempo é o senhor da razão, razão essa que muitas vezes é muito cruel e transforma pessoas em nome do poder, por menos relevante que seja esse poder. O que esses arremedos de ditadores não sabem é que esse poder tem dia e hora para acabar. Em modelos políticos como este adotado pelo Povo do Clube, o mesmo tempo que as alçou ao poder fará com que amanhã essas pessoas sejam descartadas e substituídas por outras com ainda mais sede de poder. Nós, do Tradição Popular Colorada, seguiremos dedicando nosso tempo a lutar pelas causas em que acreditamos, e o Parque Gigante sempre será uma delas.