Capítulo 2 - Dos Símbolos
Art. 3. As cores do Clube são o vermelho e o branco e seus símbolos são...
O Estatuto do Sport Club Internacional, que traz essa determinação, está disponível no site oficial do clube. Não vou fazer link porque um bom exercício para qualquer torcedor/a é visitar o site do clube, e como as coisas lá não são muito fáceis de achar, ao procurar o estatuto, pode ser que o/a pesquisador/a se depare com outras coisas interessantes.
Quem torce para o Vasco da Gama é vascaíno/a; quem torce para o Flamengo é flamenguista; para o Corinthians é corintiano/a; para o Cruzeiro é cruzeirense. quase sempre á assim. Nessa linha lógica, o nosso "gentílico" deveria ser Internacionalista. Mas não, é Colorado e Colorada. E por quê?
Como a conversa que proponho agora é destinada a colorados e coloradas, não vou entrar em pormenores históricos, porque nós, do Clube do Povo, vermelho desde sempre, temos a singular característica de ter interesse pela nossa história. Apenas os resgates necessários para dar coerência ao texto.
A escolha da cor se deu, segundo as fontes oficiais, em face de uma disputa entre Esmeraldinos, que queriam o verde, e Venezianos, que preferiam o vermelho. Esmeraldinos e Venezianos eram os dois grandes blocos de carnaval de Porto Alegre naquele início de século. E assim o Sport Club Internacional seria vermelho e isso por certo contribuiu muito para que se consolidasse universalmente o antagonismo entre vermelho e azul.
O vermelho é uma cor associada ao movimento constante, à inquietude, à força que muda as coisas, e, também por essa razão, é a cor escolhida para simbolizar a Revolução. Vermelho é revolucionário. O Internacional é revolucionário. Não poderia, como se vê, ter sido escolhida melhor cor.
Não haveria como identificar o clube de forma monocromática, por óbvio, e a ideia de ter uma cor principal, o vermelho, fez com que se escolhesse outra cor, que se poderia chamar auxiliar. Ao contrário de outros clubes, que são tricolores, quadricolores, até pentacolores (Veranópolis), o Internacional deveria ser bicolor e a melhor opção para destacar o vermelho seria o branco. Talvez, nessa discussão cromática, alguém venha dizer que branco é a mistura de todas as cores, que preto é a ausência de cor e todas essas questões que não têm nenhuma importância neste momento. O fato é que o Inter é desde sempre o clube alvi-rubro.
Até os anos 1970, a questão do uniforme colorado era bem simples: camisa vermelha, calção branco e meia branca. Caso fosse necessário, se variava essa combinação, mas sempre a camisa branca (reserva) era exatamente igual à vermelha, apenas com as cores invertidas. Assim também com o calção e a meia. O distintivo, o escudo, este sim sempre foi vermelho e branco, só vermelho e branco. Ao longo da história ele foi variando quanto à forma, ao tipo das letras, no início com as letras vermelhas e o fundo branco, depois inverteu-se, o estilo do S C I se alterou um pouco, mas qualquer alteração sempre foi em cima do vermelho e do branco.
A partir dos anos 1980, as coisas começaram a se alterar em muitos aspectos no futebol. O mundo dos negócios entrou com força e até os símbolos dos clubes passaram por mudanças e adaptações. Nas camisas, hoje em dia, é até difícil achar o símbolo do clube, que fica perdido em meio a tantas marcas e logotipos. A camisa virou uma espécie de loteamento, vendem-se espaços nela, todos os espaços, desde a parte frontal, mais cara, claro, até a parte de baixo das mangas. Uma colcha de retalhos, quase literalmente. Mas o Inter continua sendo vermelho e branco. Os modelos de camisa também são os mais variados possíveis hoje. Os interesses dos patrocinadores fazem com que sejam lançadas duas ou até três camisas por ano. Sobre o preço que se atribui a elas nem quero falar...
O Inter continua vermelho e branco! O Inter continua vermelho e branco?
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As causas sociais são importantíssimas. Conscientizar as pessoas é fundamental. Setembro Amarelo e Outubro Rosa são campanhas extremamente meritórias, por exemplo. Os clube de futebol, particularmente os de massa, têm obrigação de dar apoio a essas causas. E o Inter exerce notório protagonismo nesse engajamento. A Diretoria de Inclusão do clube, ocupada ineditamente pela minha amiga Najla, tem um trabalho bem bacana nesse sentido, junto com as iniciativas de torcidas organizadas, de outros coletivos e mesmo individuais (meu amigo Campão, minhas amigas Zita e Malu, e por aí afora).
Assim, o Internacional lançar uma camisa em apoio ao Outubro Rosa, é muito válido e até necessário. E em nome da causa a que o dinheiro das vendas se reverte, até o fato do símbolo não ser vermelho e branco se releva. Esse tipo de roupa, promocional, se presta a uma certa descaracterização, principalmente, repito, quando a causa é nobre. Adaptando o poeta, não sendo azul e não tendo a alma pequena, tudo vale a pena. Há um limite, porém, que deve ser respeitado: o limite estabelecido pelo quadrilátero que isola o campo de jogo, que de tão sagrado nele só entram os jogadores ou as jogadoras e a arbitragem. Assim, toda a vez que o Inter entrar em campo, por pisar território sagrado para o futebol e, no caso do Beira-Rio, para o nosso povo, o uniforme deve ser vermelho e branco. Preferencialmente nessa ordem, mas em casos excepcionais, branco e vermelho.
Ontem, porém, diante do Vasco da Gama, no gramado sagrado do Gigante da Beira-Rio, pela primeira vez na sua história, salvo esteja eu desinformado, o time do Internacional entrou em campo em uma partida oficial sem vermelho no uniforme. E, mais do que isso, sem vermelho e com calção e meia preta. A cor preta (e reforço que preto é cor nesse contexto) faz parte do uniforme do Grêmio e não faz parte do uniforme do Inter. Ou seja, além de descaracterizar o nosso uniforme, cujas cores estão previstas no estatuto, como se vê lá no início, o Inter entrou em campo ontem com uma cor associada ao Grêmio. Profundamente lamentável!
Sei que sou uma voz quase isolada nesse lamento. Quase e não totalmente isolada porque meus amigos Thiago e Rodrigo, ao menos, pensam da mesma forma. E seremos chamados de anacrônicos, de conservadores, de puristas, talvez até outros adjetivos menos elegantes, mas é o preço que se paga por ter opinião diversa.
E..T.: a camisa rosa é muito bonita e eu vou tentar comprar uma (lembrando que não entro em campo pelo Inter...).
Por Rodrigo Navarro