Há algum tempo atrás foi inventada uma tese que subverte a lógica do futebol e o espírito de qualquer competição esportiva. Falo da ideia de que a primeira função de um time deve ser não tomar gol. Adiante, com um único exemplo, explico o absurdo dessa criação, cujo inventor é um técnico amado por uma torcida gaúcha e tido por muitos como um dos maiores treinadores brasileiros de todos os tempos: Luís Felipe Scolari.
Pois esse técnico criou um sistema de jogo, se é que dá pra chamar assim, que consistia em jogar os 90 e tantos minutos na defesa e, de vez em quando, arriscar um balão pra dentro da área adversária, contando com a sorte da bola bater em alguém e entrar no gol. E durante um certo tempo isso deu certo no time daquela torcida de que falei antes. A questão é saber qual dos títulos que esse time conquistou que se pode considerar incontestável, como foram os campeonato brasileiros do Inter dos anos 70 ou o Mundial de 2006.
Depois disso, o Scolari treinou o Brasil campeão do mundo de 2002, que tinha Rivaldo e Ronaldo destruindo tudo, e o que mais? Afundou com a seleção portuguesa diante da Grécia, afundou co o Chelsea, afundou, afundou e vem afundando há muitos anos. Mesmo assim continua incensado como um guru do futebol moderno.
Ontem ele veio aqui e conseguiu perder para um time que tem a sua maior expressão técnica num jogador chamado Léo Gago! Sim, o também o Inter conseguiu essa façanha antes e aí começo a chegar onde eu quero. Esse esquema estapafúrdio de tentar não tomar gols antes de buscar fazê-los fez escola e parece que um dos seus seguidores é o atual técnico do Inter. Pegar um Flamengo caindo aos pedaços, com o grande craque em litígio com o clube, com o técnico (?) brigando publicamente com jogadores e por aí afora, e entrar com um meio-campo formado por Élton, Guiñazu e Josimar é um atentado contra o clube. E a explicação no final do jogo? "Se eu entro com um time aberto, tomo três, daí o que vai adiantar fechar depois?" Ora, senhor treinador, se entrar pra atacar contra um Flamengo nessas condições, o "risco" de ganhar é muito maior do que de tomar três gols. Agora, já entrar com medo de perder aumenta muito a chance de ser inapelavelmente batido, o que esteve perto de acontecer e só foi evitado pela atuação excelente (de novo) do Muriel, do Dátolo e do Fabrício, sobre quem eu quero falar agora.
Na minha opinião, o Fabrício tem jogado muito mais do que o Cléber e está merecendo a vaga no time titular. Ontem ele fez um golaço e mostrou indignação diante do resultado adverso e das trapalhadas do treinador, o que lhe valeu uma reprimenda pública durante a entrevista coletiva deste, que falou até em punição ao jogador. Ouvi dizer que o Fernandão e o Luciano Davi deram uma chegada no Dorival pra dar um tempo nessa mania de ficar punindo jogador por qualquer coisa. Sobre isso, aliás, não esqueçamos do histórico dele no Santos.
Em síntese, já que não vamos mudar o treinador até que não tenhamos mais chance de título (isso é histórico no Beira-Rio), vamos torcer para que esse Luciano Davi seja mais cuiudo que o tal Anápio e chegue junto com esse treinador para que ele pare de cometer sandices e assim, apesar dele, conquistemos o tetra. Grupo pra isso nós temos. Pelo menos é o que se diz há várias temporadas.
Como eu disse no início, o argumento para desmontar essa tese ridícula de que o melhor é não tomar gol é bem simples: no campeonato brasileiro, se um técnico monta uma equipe extremamente competente na defesa, capaz de passar os 39 jogos sem sofrer gols, mas, em compensação, absolutamente ineficaz no ataque, vai conseguir 39 empates, portanto, 39 pontos, o que terá como consequência o rebaixamento. Então, meus amigos, arrumar a defesa é importante, claro, mas o futebol se move desde tempos imemoriais pelo gol e é isso que um time deve perseguir durante todo o tempo em todos os jogos, o que, com Élton, Guiñazu e Josimar é quase impossível.
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Inter já é campeão
O Inter será campeão gaúcho no próximo domingo.
Fazer esse tipo de afirmação antecipada é sempre uma temeridade no futebol, mas a vida não tem nenhuma graça se não for um pouco arriscada.
Sim, o Inter será campeão, mas o time que nesse domingo empatou em 1 a 1 com o Caxias não tem nada de especial. Os jogadores-símbolo desse time são Fabrício, Jajá e Sandro Silva, jogadores enérgicos, de saúde estuante, que sabem o que fazer em campo, mas sem qualquer sofisticação.
Mesmo assim, bastaria um time com jogadores como eles para arrancar um resultado razoável dos altos da Serra. Só que o Inter teve mais do que isso. Teve, também, o melhor goleiro do Brasil, Muriel, e o ativo e agudo Oscar. Com esses dois talentos e os outros nove cumpridores de ordens, o Inter conseguiu o resultado que queria.
No domingo que vem, no Beira-Rio, reforçado de jogadores mais requintados, o Inter vencerá sem maiores dificuldades. Existe risco de não vencer? Claro que existe. Mas é um pequeno risco, que serve para deixar no ar certa inquietação, certa expectativa, para tornar mais saboroso o futebol. E a vida.
