À primeira vista, uma pergunta sem muito sentido, afinal as duas coisas não parecem ser excludentes. Por trás dessa aparente simplicidade, porém, o que está em jogo é a história centenária do Sport Club Internacional. Podemos começar dizendo que está em curso, já há algum tempo, uma tentativa de mudança no perfil do Internacional, ser um clube popular, democrático, aberto a todo o tipo de torcedor, já não interessa mais. Campeão de tudo, a marca que a turma que comanda o Reira-Rio há anos tenta empurrar goela abaixo, é uma situação fática, enquanto Clube do Povo é a própria essência do Inter, gravada na sua história desde a gênese, história que eles tentam, agora, simplesmente reescrever. E há uma inconsistência na afirmação campeão de tudo. Quando a expressão foi cunhada, na euforia da conquista de uma competição que ainda nos faltava, como faltava a qualquer clube brasileiro (ah, o Inter e seus pioneirismos...), fazia algum sentido, nenhum outro clube fora tão vitorioso no Brasil nos primeiros anos do século 21. Hoje, se nos detivermos nos rigorismos impostos pela ideia de ser campeão de tudo, já não o somos, eis que há pelo menos uma competição em disputa ainda não vencida, a Liga. Há um problema ainda maior, que poderia ser relevado na época dos grandes títulos, porque não se apresentava como este terrível fantasma de final de ano: há competições que o Inter não deve ser campeão. Não deve sequer disputar. Acontece que os nossos gestores não devem estar percebendo isso, dado o que parece ser um grande esforço para levar o Inter a um mundo que não é o seu. Falo, por óbvio, da cruel ameaça de rebaixamento, cada vez mais presente no horizonte colorado. Parece que a atual direção quer provar a sua tese de campeão de tudo disputando uma competição que não condiz com a grandeza do Internacional, para, vencendo-a, dar razão ao novo slogan que tentam empurrar na torcida colorada. É claro que isto é uma alegoria, não há colorado no mundo que possa querer ver o Inter jogando regularmente nas segundas e sextas-feiras, ou seja lá que dia se jogue naquele campeonato de times menores. Salvo se houver alguém na condução do Inter que não seja assim tão colorado.
Hoje à noite decide-se, no âmbito do Conselho Deliberativo, quais candidatos vão se apresentar à disputa do voto do quadro social em dezembro próximo. Os grupos hegemônicos, que detêm o poder há longa data, se articularam e chegamos a este momento com três chapas. Na última quinta-feira, os três grupos aspirantes ao poder puderam apresentar as suas propostas para os próximos dois anos de gestão no Internacional. De fato, as chapas 2 e 3 usaram o seu tempo para, de alguma maneira, dizer aos presentes, conselheiros e conselheiras, além de alguns sócios e sócias, como pretendem reconduzir o Inter ao caminho das grandes vitórias. Diferenças à parte, os projetos são concretos e em certa medida viáveis. A apresentação da chapa oficial, entretanto, foi um episódio lamentável. Numa espécie de jogral, os três candidatos da chapa 1 passaram 22 minutos e alguns segundos, de acordo com a contagem do Presidente da Mesa, falando das suas próprias qualidades, como empresários bem sucedidos ou membros de tradicionais famílias com histórico no clube (ah, claro, não poderia faltar o velho e bom carteiraço) e do que pretendem fazer para transformar o Inter num modelo de clube. Futebol? Muito pouco. Talvez por não ter o que dizer sobre esta área "menos relevante"...
Como o futebol é assunto de segundo plano para o projeto do continuísmo, interessante que venhamos a nos deter um pouco mais na análise do que se projeta em relação ao Beira-Rio, em sentido amplo, para os próximos anos. Destino do Gigantinho, área do entorno do estádio, construção da "Cidade do Inter" em Guaíba, seja lá o que isso represente, enfim, obras, obras e obras. E para tal, o establishment apresenta seus candidatos e apoiadores, não por acaso, talvez, pessoas ligadas ao meio empresarial, particularmente da construção civil. Gente que não andava muito participativa na vida do clube, não de forma decisiva, na linha de frente, aparece agora como solução para os problemas de gestão, mas, claro, traz junto com o nome o currículo familiar, de grandes homens que ajudaram a construir a história do Inter. Ao lado de pessoas que têm a caneta, para usar uma expressão ao gosto do atual mandatário, mas não sabem escrever (ou desaprenderam) sobre futebol. Ou seja, o Inter pode terminar o biênio da nova gestão na quarta divisão (com chances de a partir daí virar de fato campeão de tudo, claro), mas terá um estádio maravilhoso, com um complexo empresarial, de turismo, ou seja lá o que for, de dar inveja às grandes corporações. E poderá sediar grandes shows, quem sabe até ser palco de competições internacionais de futebol americano, oferecer aos chineses e australianos que queiram investir por aqui um restaurante panorâmico com vista para o Guaíba, enfim, tudo de primeiro mundo. Ou melhor, quase tudo, mas, afinal, que bobagem, o que é o futebol neste contexto hi-tec, não é mesmo?
Falando em futebol, que ainda é o motivo da existência da instituição, essa gestão é um rotundo desastre. Nunca existiu nenhum planejamento. Os dois últimos anos do Inter nunca começaram em janeiro. Chegando à semifinal da Libertadores ano passado, às vésperas de um GreNal, os gênios criativos decidiram que precisavam de um fato novo e aproveitaram o ensejo para demitir o técnico que, apesar de um bom trabalho, não agradava ao "todo-poderoso". O fato novo foi o maior vexame da história colorada frente ao Grêmio. Muito maior do que a derrota para o Mazembe, pois lá, apesar de ser traído pelo salto alto e a falta de planejamento, o Inter estava entre os quatro maiores times do mundo. - A propósito, quem estava no comando administrativo e técnico do Inter naquela época? - Como solução mágica, um técnico com história no clube e com excelentes trabalhos realizados no Figueirense e... o que mais, mesmo? Com todo o respeito ao profissional e à pessoa, o Argel não tem, e talvez um dia tenha, o tamanho do Internacional como técnico. Quando já não dava mais, entra em ação a máquina trituradora de ídolos e joga na fogueira o maior deles, pelo menos um dos maiores, Falcão foi chamado às pressas e, começando novamente o ano colorado, queimaram o Rei de Roma impiedosamente, para trazer de volta ele, o salvador, o gênio, o grande estrategista, aquele que salva os times do inferno (Vasco e Coritiba que o digam), não sem o apoio de peso da... Swat (?). Toda essa tresloucada aventura está terminando com uma entrevista em que o genial treinador diz que pegou um time esculhambado pelos técnicos que o antecederam e implementou qualidade, padrão de jogo, disciplinou o vestiário, e que agora as vitórias são mera questão de tempo. Talvez para os propósitos da gestão "campeã de tudo" isso faça sentido. O contrato deste gênio das quatro linhas já deve estar alinhavado com a chapa oficial, tal como ocorreu após o fiasco de 2010. E no ano que vem, se "o projeto campeão de tudo" for levado a efeito, e o Inter disputar a segundona, ele terá bastante tempo para implantar a sua filosofia. Talvez não haja jogadores diferenciados para ele deixar no banco, mas isso se resolve. Pensando bem, melhor até que o futebol fique em segundo plano em tempos de canteiro de obras no Beira-Rio, né?
Há que se falar, porém, na esperança. E só quem pode dar um rumo diferente para esse conto de fadas às avessas é O POVO COLORADO! Em duas frentes: lotando o Beira-Rio nos próximos dois jogos, os mais importantes da nossa história centenária, e ajudando a VARRER ESSA GENTE DO BEIRA-RIO NAS PRÓXIMAS ELEIÇÕES! Livre dos "gênios criativos" e suas ideias mirabolantes, que privilegiam a torcida tricolor e a festa das selfies no Beira-Rio e só lembram do nosso POVO quando a o nó da corda começa a apertar, vamos conseguir afastar o Inter do inferno do rebaixamento e, zerando a pedra, começar a reconstruir a história de glórias do CLUBE DO POVO. Caso contrário, é esperar ser campeão de tudo com títulos das divisões inferiores. É a hora do POVO COLORADO decidir o que quer do Internacional: O CLUBE DO POVO ou...
segunda-feira, 7 de novembro de 2016
terça-feira, 1 de novembro de 2016
Rolo Compressor - a subversão
A imagem de um rolo compressor faz brilhar nos olhos da torcida
colorada a lembrança de um tempo em que o nosso time entrava em campo
unicamente para saber placar, pois a vitória era certa. Nesse tempo, a
escalação não narrada, mas declamada: Ivo, Alfeu e Nena, Assis,
Ávila e Abigail, Tesourinha, Russinho, Rui, Villalba e Carlitos. Tremiam os
adversários. E essa era só a base, qualquer outro que entrasse no lugar de um
desses craques era mais um músico na grande orquestra. Logo em seguida, este
time deu lugar a outro, tão temido quanto, que tinha na frente uma das maiores
duplas de ataque da história do futebol mundial. Larry, o Cerebral, e Bodinho
eram implacáveis naquele time que se eternizou como o Segundo Rolo. A partir
dali, e enquanto o Internacional manteve a memória da sua história, cada vez que um técnico mandava a campo um time com
poucos ou nenhum titular, este era carinhosamente chamado de Rolinho. Eis o
resumo da história da relação da expressão Rolo Compressor com o
Internacional.
Fazendo um salto
de algumas décadas, vemos que a imagem, tão cara ao povo colorado, do rolo
compressor, vem ganhando outra conotação. Hoje ao trazermos a expressão, muito
mais fácil associá-la à maneira como as questões internas do Internacional são
tratadas frente à política que se instalou na gestão do clube, que conta com
amplo apoio da base governista no Conselho Deliberativo. Ontem, o que se viu na
reunião extraordinária convocada por um grupo de conselheiros, em face da
inércia da Mesa Diretiva, foi um espetáculo deprimente. Vou fazer uma
brevíssima síntese dos fatos para que * leit*r entenda basicamente a forma de
agir do supremo comando colorado.
Aproximadamente a partir do meio do ano, começaram-se a discutir, no
âmbito do Conselho, os contratos de transmissão dos jogos do Internacional para
as próximas temporadas. Ou melhor, houve algumas tentativas de discutir o
assunto na instância deliberativa, de acordo com as normas
estatutárias, diga-se. Tentativas apenas, porque em duas ocasiões a ordem do
dia das sessões convocadas para este fim foi fraudada pela direção, que retirou
de pauta o tema. Na reunião do dia 26 de setembro, o presidente do clube afirmou
que não se poderia deliberar sobre o tema por conta de uma proposta da Rede Globo
que acabara de chegar à direção. Anteriormente, a administração fizera uma explanação
em plenário, tratando o contrato firmado com o Canal Esportivo Interativo para
os anos de 2019 e 2020 como uma verdadeira maravilha, colocando o Internacional
na vanguarda dos clubes brasileiros, protagonista do corajoso ato de romper com
o monopólio da Globo e dizendo que a partir dali se estabeleceriam novos
paradigmas nas negociações de venda de direitos de transmissão. Muitas
discussões se sobrepuseram, dentro e fora do Conselho, análises foram feitas,
teses foram criadas, tudo em vão, pois a Mesa do Conselho, que muitas vezes
parece agir sem a autonomia necessária, mas apenas como um braço da
direção, nunca impôs à gestão a prerrogativa daquela casa, que é deliberar
sobre os assuntos de interesse do clube.
Há alguns dias, o povo colorado foi surpreendido em uma entrevista
coletiva do presidente do clube, na qual ele afirmava ter assinado um grande
contrato com a Rede Globo (aquela que monopoliza de forma nefasta as
transmissões no país do futebol), recebendo um valor, que se convencionou chamar
de luvas, e logo se entenderá o motivo, a bagatela de 47 milhões de reais. Estabeleceu-se,
então, uma discussão, ao meu ver meramente semântica, em torno justamente
daquilo que a direção caracterizou como luvas contratuais. Se são luvas, segundo
o entendimento de alguns, não se caracteriza uma burla ao estatuto do
Internacional, que diz basicamente que não pode haver antecipação de receita de
gestões futuras sem que o contrato seja votado no Conselho Deliberativo. Foi
solicitada à Mesa do Conselho uma reunião extraordinária com a finalidade de
DELIBERAR sobre o assunto. Ora, deliberar significa discutir e VOTAR. A
presidência da Casa convocou a reunião, entretanto modificou a ordem do dia,
retirando o termo deliberar. Em 21 de outubro, uma sexta-feira, dia estranho para a
realização de uma sessão do Conselho, reuniram-se os conselheiros para um bate-papo “à
beira do fogo”, ocasião em que o Vice-Presidente de Administração explanou
sobre os contratos. A diferença é que desta vez o maravilhoso contrato com o
Esporte Interativo virou apenas balão de ensaio para um sensacional contrato
assinado com a Rede Globo. Discussões de natureza jurídica e argumentos
técnicos foram apresentados, tudo em vão, porque o tal contrato já estava assinado.
Durante a reunião, o plenário foi informado da convocação de uma reunião
extraordinária para o dia 31 de outubro, feita à revelia da Mesa, nos termos
estatutários, esta sim com o objetivo específico de discutir e VOTAR o contrato
com a Globo.
Chegamos, finalmente, ao palco do circo armado na noite de ontem.
Para começar a conversa, soube-se, pelo parecer do Conselho Fiscal, que a proposta aceita pela direção datava de
1º de julho. Ou seja, aquela conversa da reunião de 26 de setembro, que
trancava a discussão por conta de uma nova proposta recém chegada, era
falaciosa. Já havia alguns meses a proposta era analisada nos gabinetes diretivos
do clube, ao arrepio do órgão deliberativo. Houve fatos ainda piores, por
difícil que seja acreditar. O não comparecimento do presidente do clube a uma
reunião desta importância, por exemplo, escancara a arrogância e a falta de
comprometimento da gestão com as coisas do clube. O primeiro vice-presidente,
substituto natural do gestor, não obstante estivesse na Casa, talvez por não querer se expor aos questionamentos, candidato que é à presidência, delegou a função de
representar a gestão ao segundo vice-presidente. Em uma de suas manifestações o presidente do
clube em exercício, perguntado se já havia sido feito o depósito das tais
luvas e se o dinheiro já havia sido utilizado, disse que sim, que havia sido
paga uma dívida cuja inadimplência poderia, inclusive, provocar o rebaixamento
do Inter por uma norma da FIFA. Ou seja, não obstante todos os esforços que
parecem estar sendo envidados pela gestão para que o Inter passe por essa
situação lamentável de contar cada pontinho dentro do campo para fugir à
tragédia da série B, ainda evidencia-se a prática de gestão temerária, porque,
como colocado pela conselheira Najla Diniz ao microfone, havia uma dívida que poderia
trazer consequências terríveis, cujo pagamento foi feito com uma verba que
surgiu posteriormente. Isto é, caso não tivesse havido o adiantamento da Rede Globo, uma receita extraordinária, o INTERNACIONAL SERIA REBAIXADO EM
FUNÇÃO DE UMA DÍVIDA. Dívida essa que é com o jogador Luque, que poucas
vezes vestiu a camisa vermelha e ainda de forma a não deixar nenhuma saudade. Se isso não é gestão temerária, estamos diante do que, então?
Muito poderia ser dito sobre as discussões travadas na reunião,
mas o importante, agora, é descrever de forma sucinta como foi o processo de
votação. Não é preciso dizer que a deliberação sobre um assunto de tamanha
importância é da mais alta seriedade e todos os cuidados devem ser tomados para
que o processo de votação transcorra de forma totalmente clara e transparente.
O Presidente da Mesa, entretanto, parece não pensar desta forma. A votação foi
promovida no velho sistema do senta-levanta: “Aqueles que concordam permaneçam
como estão...”. Durante a contagem dos votos, o conselheiro César Schunemann
verificou que havia mais votos do que votantes, numa situação que, ao que se
sabe, não acontecia por aqui desde os tempos de Júlio de Castilhos e Borges de
Medeiros, quando até os mortos votavam. Depois se disse que houve um problema
no livro de assinaturas, com conselheiros que estavam na reunião, mas não
haviam assinado, enfim, desculpas acham-se para tudo no contexto atual do
Internacional.
Outro fato gravíssimo deu-se em relação ao Parecer do Conselho
Fiscal, que os conselheiros e conselheiras governistas seguidamente trazem à luz
para justificar suas decisões, muitas vezes descomprometidas com os verdadeiros interesses do clube. O documento sugeria a edição de uma Resolução a
fim de definir, por omissão do Estatuto, que pagamento de luvas é antecipação
de receitas e, portanto, os contratos em que houver esse sistema devem ser
submetidos previamente ao Conselho. Esta sugestão originalmente incluía o
contrato em análise. O que se aprovou, entretanto, foi que ela passa a valer a
partir de então. Algo mais ou menos assim: até o presente momento esta prática
foi certa, a partir de agora é errada.
Pior do que isso tudo, talvez, tenha sido o fato de ninguém além
da direção, o que inclui o Conselho Fiscal, nas palavras do seu presidente,
saber efetivamente dos 47 milhões. Não se sabe em que dia foi depositado nem em que conta, não
se comprova a sua utilização, não se sabe como ele integra a contabilidade do
clube, isto é, são 47 milhões que
salvaram o Inter do rebaixamento fora de campo, sobre os quais não se tem a
menor informação. Neste momento é importante destacar a presença na reunião do
responsável pela área de transparência do clube, que fez apenas uma breve
intervenção a respeito do rito de votação, mas nada disse sobre... a
transparência.
Assim, amig*s, a triste conclusão que chegamos é que mais uma vez
a patrola da direção passou pelo Conselho e a expressão Rolo Compressor, que
está na memória da torcida gravada pelos heróis que construíram a história do Clube do Povo, passou a ter outra conotação.
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