NOTA DE ESCLARECIMENTO INICIAL

Somos COLORADOS e estamos preocupados com os rumos do CLUBE DO POVO. Por isso criamos este blog. Nosso maior objetivo é resgatar a alma do Sport Club Internacional, cujos alicerces estão fincados nas classes populares, que sempre deram sustentação e transformaram o INTER no GIGANTE que ele é.


O Inter NÃO nasceu em 2002!!!



segunda-feira, 2 de março de 2015

TORCIDA MISTA - ou a festa na High Society

Foi bonito ver tricolores e colorados convivendo civilizadamente ontem no Beira-Rio. Lado a lado, cada um incentivando o seu time, sem brigas, sem confusões, espetáculo lindo de se ver. Dizem os que viram que foi bonita também a chegada pelo Caminho do Gol reeditado, com a Banda da Brigada Militar animando a festa. Tudo muito certo, tudo muito bem, entretanto, é preciso investigar o que está por trás desta novidade, saudada por todos, que fez até um colunista de um periódico da capital dizer que agora sim podemos encher o peito e cantar a plenos pulmões a parte do nosso hino que exorta toda a terra a se espelhar nas nossas façanhas. A nossa façanha, neste caso, atende pelo nome de torcida mista.
Zona Mista


Retomando a história do clássico Gre-Nal, veremos que até algum tempo era comum as torcidas dividirem os espaços nos estádios. Não sentados um ao lado do outro, como ontem, mas em número razoável de torcedores de um time no estádio do adversário, cada na parte que lhes era reservada, sabendo que o vizinho de arquibancada não se importaria nenhum pouco com os xingamentos ao outro time. E a estatística de incidentes graves quando havia esta prática é inexpressiva. Aos poucos os espaços foram ficando menores, menores, menores, até chegar ao ridículo panorama dos dias de hoje, quando no Beira-Rio são liberados mil e poucos ingressos para gremistas e no estádio do Grêmio outros mil e tantos para a torcida colorada. E esses mil e poucos são "escoltados" (eufemismo para "conduzidos tipo gado") até o estádio do rival, a fim de que não provoquem tumulto pelas ruas.

Vida de gado...


E o "cidadão de bem", diante dessa "horda de bárbaros", perde o direito de ir ao jogo. Mas e quem é este cidadão de bem? Que figura social tão etérea é esta, criada para justificar a repressão sobre uma parcela da comunidade que se quer ver, por diversos motivos, afastada do convívio social? Depende do momento. Quando o jogo é decisivo, o cidadão de bem é todo o torcedor que possa ir ao estádio e empurrar o time para cima do adversário. Em outros momentos, este torcedor não serve mais, dele não se precisa, então ele vira o bode expiatório a partir do qual se explicam todas as mazelas do espetáculo futebolístico. Tudo o que acontece de ruim dentro e no entorno do futebol é culpa dessa gente incivilizada, incapaz de um convívio social norteado pela paz, pelo respeito e pela urbanidade.

Festa! Ou...
O que aconteceu ontem não pode ser dissociado do que aconteceu três dias antes. Na quinta-feira não havia torcida mista e o torcedor colorado que foi ao Beira-Rio para fazer a festa, incentivado pela própria direção do Inter, daquele jeito que já virou tradição em jogos internacionais, batizado de "Ruas de Fogo", foi recebido a golpes de cacetete e balas de borracha pela Brigada Militar, aquela mesma corporação cujo segmento musical acompanharia a caminhada da "torcida civilizada" pelo Caminho do Gol. As explicações foram absurdas, tanto quanto a postura dos dirigentes colorados. Todos pretenderam - e ainda pretendem, porque o caso terá Desdobramentos - inverter a relação e a atuação dos atores sociais daquele evento. Culpam torcedores pelo uso de violência, tentativa de invasão etc., coisas que as inúmeras testemunhas negam ter visto, mesmo aquelas que não tomaram parte diretamente nos eventos. Restou do episódio um prato cheio para que se sirvam com volúpia aqueles que pregam a criminalização indistinta dos torcedores organizados. Aceitando a ideia de que inexplicavelmente algum torcedor colorado poderia querer tumultuar o ambiente que antecedia um jugo importantíssimo, não seria dever do poder constituído a investigação, identificação e punição do eventual baderneiro? É bem mais fácil, porém, em nome de interesses variados, cavar uma vala comum e jogar todos dentro dela.

...guerra?
Talvez não por acaso, ainda nessa mesma semana tenha sido noticiada a votação de um projeto de lei, de autoria de um vereador ligado ao futebol, com participação recente em acontecimentos ainda não muito bem explicados, Alceu Brasinha, que libera o consumo de álcool nos estádios, com a restrição de que seja permitido apenas nas chamadas áreas vips, frequentadas por gente das camadas "civilizadas" da sociedade, a que o "povo bárbaro" não tem acesso. Ou seja, ao mesmo tempo em que a repressão atua fortemente contra o povo que faz festa, nos gabinetes do legislativo, engendra-se uma lei que escancara a visão preconceituosa, que atribui a este povo a responsabilidade por toda a violência que as autoridades não têm competência (ou vontade) de conter.

A esta altura os nós que entrelaçam esta teia já começam a ficar mais soltos. Tudo faz parte de um contexto em que se quer transformar o futebol, que sempre foi a alegria do povo, em um espetáculo privado, destinado aos privilegiados que podem pagar por ele. O futebol moderno nada mais é do que um grande negócio, que faz circular valores estratosféricos e que estabelece relações de poder extremamente delicadas. Neste cenário, o povo que ama a camisa do seu time e que não quer mais do que ser feliz com os seus ídolos em campo, não tem mais espaço. É a lei do "paga ou fica fora".

No Beira-Rio...
Ontem, no Beira-Rio, o contraste entre o que se via dentro do estádio, especificamente na zona mista, e o espetáculo da rua, protagonizado no bar em frente, lotado de colorados, por certo aqueles que não puderam pagar o preço do ingresso, foi o que de mais flagrante se poderia ter da verdadeira intenção deste movimento de modernização (leia-se elitização) do futebol. O "povo de bem", que gosta de ver o futebol - ou qualquer espetáculo - através das lentes dos smartphones e câmeras, acomodado nas confortáveis cadeiras do estádio novo e a torcida que sentava nas arquibancadas de cimento do estádio antigo (mas com alma) - ou ficava em pé na coreia - se aglomerando em frente à tv do bar. Bem, já foi dito que quem não tem dinheiro pra pagar o preço do ingresso tem que ver  pela tv mesmo...


...enquanto isso, do lado de fora...




Dentro de campo, um jogo absolutamente chato, cujo resultado não poderia ser mais apropriado aos interesses do sucesso da festa. Imaginem se algum dos times faz um gol e os ânimos se acirram na zona mista? A civilidade correria sério risco de ser atropelada pelos instintos mais apaixonados de (alguns) torcedores que ainda vão ao estádio para... torcer. O (x) 0 x 0 no placar atendeu aos anseios daqueles que pretendiam provar que é possível a convivência de colorados e gremistas no mesmo espaço, mas que para isso dar certo é preciso que seja "gente de bem". O fato de não ter sido chutada uma bola sequer com perigo a qualquer um dos gols durante os 90 minutos, de não se ter notado, exceto por raríssimos lances, empenho dos jogadores em ganhar a partida, pode ter alguma ligação com o contexto do que está se discutindo neste texto? Não sei, mas, por exemplo, o Haroldo de Souza, ilustre cronista esportivo disse, em seu comentário na rádio hoje pela manhã, que o resultado do jogo foi decidido na janta dos técnicos na sexta-feira. Será que a janta não foi apenas uma formalização do que já tinha se decidido em alguma sala de algum escritório da cidade? E o povo, além de ser impedido de ir no estádio, parece ter sido fraudado dentro de campo.

E viva a festa na high society!!






















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