O FAROL DA LIBERDADE

O André foi no jogo do Inter no sábado passado em Barueri e ficou indignado quando a torcida Colorada atropelou o hino do Brasil, cantando o nosso em cima. Como ele foi já há alguns anos pra lá, a fim de tornar a terra dos bandeirantes mais gaúcha, não sabe que isso é prática comum no Continente de São Pedro, seja no Beira-Rio ou na Azenha/Medianeira.

Pra começar a conversa, esse negócio de executar o hino em jogos de competições nacionais é uma baita bobagem. Parece coisa de quando eu estava no primeiro grau e a gente tinha que estudar Moral e Cívica, alguém se lembra? Definitivamente não é por aí que se estimula o patriotismo, mas nem vou entrar nisso agora, porque o meu assunto é essa suposta manifestação transgressora que esses caras acham que fazem.

A história do Rio Grande do Sul é realmente maravilhosa e nós temos um sentimento atávico que nos coloca quase sempre na contramão, numa posição contestatória a tudo, do tipo "si hay gobierno soy contra". Há quem diga que nós estamos para o Brasil como os irlandeses estão para a Inglaterra. Confesso que muitas vezes me sinto atraído por esses ideais meio quixotescos de rebeldia. Só que tem coisa que não dá pra entender.

Esses que estufam o peito pra dizer que as nossas façanhas são modelo a toda terra saberiam dizer o mínimo sobre essas façanhas? Sabem quem foram os Lanceiros Negros? Conhecem a história e o sentido do nosso belo hino, cuja música foi encomendada ao maestro Mendanha, que era imperial e prisioneiro dos Farrapos? Sabem que o Rio Grande do Sul integra o Brasil em grande parte por opção própria? Bom, essas são perguntas meio difíceis mesmo, mas aposto que se eu perguntar sobre o Bento Gonçalves eles vão dizer que é o nome de uma avenida...

Ninguém é obrigado a conhecer a história do Rio Grande do Sul, mas quando se quer demonstrar um sentimento de patriotismo contestatório, que pretende enfrentar a federação, é preciso que se tenha elementos e argumentos suficientes pra não ser simplesmente chamado de provinciano. Os mesmos caras que se dizem gaúchos antes de brasileiros (bonito isso), cantam uma música feita em cima da trilha do Senna, da rede bobo ("Eu nunca me esquecerei dos dias que passei contigo, Inter..."). E o Senna era brasileiro, mas não era gaúcho. E era o cara! E a plim-plim de gaúcha não tem nada. 

Eu poderia enumerar uma pilha de contradições acerca desse gauchismo, mas não acho que seja preciso, por isso termino dizendo apenas que vou respeitar o gauchismo patriótico que expressam esses caras quando eles forem pro estádio de chiripá e bota de garrão de potro...